Galaktische Performance, Juli 2013
Harry Crowl und Haroldo de Campos bei der
Premiere von "Finismundo" (1991) © Harry Crowl
In einem Interview vom 12.05.2014 spricht der brasilianische Komponist Harry Crowl mit Jasmin Wrobel über seine Beziehung zur konkreten Poesie und Haroldo de Campos.
Caro Harry, antes que mais nada muito obrigada pela sua disponibilidade para falar um pouco sobre a sua relação artística com os poetas concretos e, mais especificamente, com Haroldo de Campos.
Para começar, vocêpoderia nos contar como vocêe Haroldo se conheceram?
Conheci o Haroldo de Campos no final dos anos 80 em Ouro Preto, MG. Na época, eu trabalhava na UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e o Depto. de Letras, que funciona em Mariana, tinha um programa muito interessante chamado "Poesia na Voz do Poeta". Em 1987, o Haroldo foi convidado e fui ao encontro dele dizendo que era compositor e acompanhava o trabalho dele com muita admiração. Ele me recebeu com muita generosidade e logo quis conhecer a minha música.
Você fez algumas interpretações criativas da obra de Haroldo. Como você relaciona a poesia concreta com a sua própria obra? Em que medida a poesia concreta influenciou as suas composições? Como você descreveria a relação entre música e poesia concreta?
A primeira vez que usei poesia concreta não foi a partir do trabalho do Haroldo, mas do poeta mineiro Affonso Ávila. A experiência com o uso hermético do idioma sempre me atraiu. Além disso, a técnica de construção usada pelos poetas concretos sempre interagiu de forma constante com as técnicas de composição musical. Vejo muitos poemas concretos como composições musicais feitas com palavras, ou seja, ao invés de sons musicais.
Acho que o mais importante trabalho que desenvolvemos juntos foi sobre “Finismundo”. Em 1991, ele escreveu esse poema depois de ter passado uma temporada entre Ouro Preto, São João del Rey e Tiradentes. É um texto baseado na Odisséia, de Homero e no Inferno, de Dante Alighieri. Escrevi uma obra musical que denominei “Finismundo - Moteto épico a solo” (1991-92) para soprano e conjunto instrumental. Em várias ocasiões, o próprio Haroldo esteve presente na apresentação e participava declamando a poesia antes da execução musical. Como respeitei a integralidade e a visualidade do poema original, isso gerou algumas dificuldades de produção devido à sua duração e, somente a primeira parte foi apresentada e gravada em 1996. Tive que esperar até 2010 por um projeto da Fundação Cultural de Curitiba que possibilitou a sua realização, para assim ter a obra apresentada na sua totalidade, o que foi feito juntamente com uma criação de teatro de sombras. Além de “Finismundo”, usei textos do Haroldo como ponto de partida para peças puramente instrumentais, como foi o caso da “música concertante” para violão e 3 percussionistas, “E que sejam luminárias, no céufogoágua...”, de 2002, estreada no ano passado pelo violonista Fabio Zanon.
Agradecemos muito a sua generosa colaboração no nosso projeto da Performance poética das galáxias, que foi realizada no LAI no ano passado. O que vocêachou do resultado, o vídeo para o qual vocênos “emprestou”a sua composição Antipodae Brasilienses (2008)? O que vocêpoderia nos contar sobre a criação dessa composição?
Acho sempre algo muito enriquecedor poder observar a criação de um discurso poético a partir de outro completamente distinto. Fiquei muito satisfeito e surpreso com o resultado. A gênese de “Antipodae Brasilienses” passa por um outro mundo. Na verdade, trata-se de um dítico para orquestra com uma intensão parcialmente descritiva. São dois os movimentos: I. Do Sertão ao Delta e II. Paisagem de Inverno. O momento utilizado no documentário foi recortado do primeiro. A música originalmente faz referencia ao trajeto do Rio Parnaíba, no estado do Piauí, rumo ao grande delta que deságua no Oceano Atlântico. O segundo movimento contrasta o inverno do sul do Brasil com a paisagem agreste do Nordeste.
Harry, gostaríamos de mais uma vez agradecê-lo por compartilhar conosco suas experiências com a poesia concreta e com Haroldo de Campos.