Pensando a sua trajetória biográfica e academia. Gostaria de começar perguntando como e até que ponto o golpe de 1964 e a ditadura militar no Brasil influenciou na sua decisão e de sua família a migrar para os Estados Unidos?
Bom, parece que então a migração é realmente uma coisa que está na sua trajetória, não somente nas experiências Estados Unidos, mas também com a sua família, que é uma família de imigrantes no Brasil e acabou sendo o tema central dessas pesquisas. A senhora poderia falar um pouco mais sobre isso?
Professora, a senhora também já comentou, que a senhora participou em vários movimentos. Então trazendo um pouco a questão de gênero, assim para essa sua experiência, e a senhora como já se comentou sendo uma mulher latina-americana-, judaica, imigrante nos Estados Unidos. A gente gostaria muito de saber como o que foi esse processo de integração para a senhora. Porque a gente pode mais ou menos dizer, que a senhora foi, de certa forma, uma imigrante, não sei se isso seria o termo correto, mas uma imigrante qualificada. Porque a senhora já foi com uma formação de graduada e começou seu processo de dar continuidade aos seus estudos. E como foi essa sua inserção nessa comunidade?
Tratando dessa questão do ativismo, voltando um pouco mais assim, para esse ativismo de movimento feminista, a senhora também presenciou os movimentos de resistência contracultura, certo? E como que essas experiências, de certa forma, influenciaram a senhora pessoalmente nas suas pesquisas?
A gente poderia dizer, então, que de alguma forma essas experiências feministas a levaram a estudar gênero?
Pensando justamente neste trabalho que a senhora fez sobre o documentário Saudade, que enaltece a saudade das origens. Como foi perceber essas tradições locais e ver que se mantém viva essa memória portuguesa, a cultura, as tradições e o processo migratório em si? Mas, principalmente, como foi realizar esse trabalho em uma comunidade portuguesa para uma instituição americana, sendo uma mulher brasileira?
É exatamente sobre isso também que gostaria de perguntar. Sendo neta de imigrantes judeus, mulher, brasileira, latina nos Estados Unidos, como essas múltiplas identidades e “camadas de tempo e espaço” construíram a sua experiência de saudade?
Professora e ainda um pouco sobre sua pesquisa relacionada à emigração portuguesa. A gente gostaria um pouco de relacionar essa temática com a questão da interseccionalidade de cultura. A senhora propõe um enfoque alternativo para captar as complexidades que envolvem a (re)construção de classe, etnicidade, e gênero, considerando como mulheres e homens imigrantes reinterpretam e simbolizam o seu passado na terra natal e no novo contexto em que se encontram, de “intersecção de culturas”. Contemporaneamente, esse seu “enfoque alternativo” e poderia ser considerado como uma proposta analítica, feminista e interseccional. A senhora então já está concordando dessa maneira. E qual a importância das abordagens interseccionais nas pesquisas sobre mulheres imigrantes?
Essas mulheres portuguesas seria como, uma ruptura cultural pra elas também. Não é? Porque elas são imigrantes, mas a partir do momento que elas têm a necessidade de se inserirem e integrarem nessa sociedade norte-americana, elas passam a ser as mediadoras dessas duas culturas.
A senhora também escreveu que os imigrantes portugueses passaram por um processo de fragmentação do eu. (...) Sim, poderia assim de repente, formular para a gente mais ou menos a sua ideia desse conceito de fragmentação do eu?
Agora eu gostaria de entrar numa questão mais atual, mas também trazendo ao mesmo tempo esse conceito do cosmopolitismo imigrante. Pensando que a cidade de São Paulo é o principal destino dos imigrantes no Brasil. Novas relações sociais, políticas e econômicas são formadas e desigualdades são reforçadas. Há uma multiplicidade de imigrantes que buscam ser reconhecidos, vistos e respeitados. Como se pode pensar esse cosmopolitismo imigrante com a ideia de cidadania global no contexto paulista? E de que forma isso poderia nos ajudar a pensar novas políticas públicas?
O crescimento das extremas direitas no mundo, bem como no Brasil, tem reforçado campanhas contra imigrantes, e, isso acaba dificultando o acesso dessa categoria ao mercado de trabalho e regularização de documentos. A senhora tem trabalhado ativamente na campanha “regularização já”. Qual é o papel das mulheres na luta pelos direitos de imigrantes na cidade de São Paulo?
E pensando na pandemia, a senhora poderia falar para a gente um pouco como a pandemia revelou que o rosto da imigração é um rosto feminino?